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domingo, 22 de novembro de 2015

PADRE ANTÓNIO VIEIRA -Dia Mundial da Filosofia 19 de Novembro 2015 ESPAV Turma 11ºLH1



Em meados de 1674,   Padre António Vieira respondeu à seguinte dúvida:
O mundo é mais digno de lágrimas ou de risos?
E quem tinha mais razão, o filósofo Demócrito que sempre ria ou o filósofo Heráclito que sempre chorava?


Coube-lhe a defesa do riso de Demócrito.


 (Mestre de Epicuro)

"(...) Se o pranto e o riso aparecessem neste grande teatro no traje da verdade (sempre nua), sem dúvida seria a vitória do pranto. Mas vestido, ornado e armado de uma tão superior eloquência, que o riso se ria do pranto, não é merecimento, foi sorte. Tal é a intensidade e natureza destes contrários que o riso nasce na boca, como eloquente, e o pranto nos olhos, como sendo mudo. (...)

Demócrito ria sempre: logo nunca ria. A consequência parece difícil e é evidente. O riso, nasce da novidade, surpresa e da admiração, e cessando a novidade ou a admiração, cessa também o riso; e como Demócrito se ria dos ordinários desconcertos do mundo, e o que é ordinário e se vê sempre não pode causar admiração nem novidade; segue-se que nunca ria, rindo sempre, pois não havia matéria que motivasse o riso.

(...) Há chorar com lágrimas, chorar sem lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é sinal de dor moderada; chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva. A dor moderada solta as lágrimas, a grande as enxuga, as congela e as seca. Dor que pode sair pelos olhos, não é grande dor; por isso não chorava Demócrito; e como era pequena demonstração da sua dor não só chorar com lágrimas, mas ainda sem elas, para declarar-se com o sinal maior, sempre se ria.(...)

Nada digo que seja contrário aos princípios da verdadeira Filosofia e da experiência. A mesma causa, quando é moderada e quando é excessiva, produz efeitos contrários: a luz moderada faz ver, a excessiva faz cegar; a dor, que não é excessiva, rompe em vozes, a excessiva emudece. Desta sorte a tristeza, se é moderada, faz chorar; se é excessiva, pode fazer rir; no seu contrário temos o exemplo: a alegria excessiva faz chorar e não só destila as lágrimas dos corações delicados e brandos, mas ainda dos fortes e duros. 

O pranto dos olhos é mais fino, o da boca é mais mordaz, e este era o pranto de Demócrito. De sorte que na minha consideração, não só Heráclito, mas Demócrito chorava.

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